Me lembro de nós três brigando no chão, você queria tirar as roupas e sair dançando mas os carros estavam passando.
Eu só queria entrar então esperei brevemente os carros pararem de passar e atravessei.
Do outro lado, tinham pessoas muito felizes por me ver, mas pelos motivos errados então ameacei todos com o punho fechado e foi como se a felicidade deles nunca tivesse existido.
No caminho de terra encontrei duas amigas, tentei explicar a elas oque sentia e disse que procurava pela felicidade mas me disseram que ela não tinha vindo e eu fiquei com a sensação de cabelos sedosos nas mãos.
Só me lembro da sensação inebriante de sentir seus olhos, era tudo tão bonito, iluminado, arborizado mas com a terrível sensação de ser viajada pelas paredes. Não demorou para eu te reconhecer, rosto em forma de lua, olhos profundos que te convidavam a sumir ali e nunca mais voltar.
Já não se podia mais tocar em nada, a casa estava amaldiçoada pela máscara de duas caras.
Só me lembro de olhar em volta e ver todas aquelas penas coloridas no meu corpo, aquilo não era eu, não parecia eu, eu não gostava daquilo, mas eu que permiti, eu que deixei, eu que pedi. Não posso viver com essa culpa, terei de passá-la toda pra você, embora você tenha feito um ótimo trabalho em meus braços, são flores lindas, criaram raízes mas é tudo preto e branco, aquilo era eu, parecia eu mas agora pensando bem acho que eu não gosto disso.
Me lembro de sentir o peso do corpo nas asas, mas fazia aquilo todos os dias, planava sobre ilhas flutuantes entre as nuvens, desejei poder ficar ali pra sempre mas reconheci quem eu devia protejer na praia então juntei minhas asas e logo, como em um gesto inverso da metamorfose da borboleta fui de coruja pra gente.
Meus pés estavam na areia. A água parecia tão maleável nesse dia. Não demorou muito para as ondas encherem e o tsunami traçar seu caminho até nós, ficamos a salvo mas no elevador desejei que nunca tivesse parado de voar.
Me lembro de reconhecer no céu nublado nuvens escuras formarem sua mão. Com um aspecto escuro, acinzentado e esfumaçado uma menina nasceu delas, chorando.
Uma gota de sangue caindo do céu, um vulto de uma pessoa em prantos. E tudo se transformou nesse homem gigante que me olhava do lado de fora do prédio apoiado na varanda, olhando nos meus olhos de perto com um rosto limpo de qualquer expressão. Eu quis afronta-lo, “como você ousa me olhar com tamanha falta de emoção?” mas ele não pareceu gostar e me puniu com todos aqueles vultos. Não pude conter meu choro porque nenhum de vocês podia vê-los, não queria ter vivido nessa época.
Só me lembro de diversas de você enroscadas pelo meu cabelo, com várias patas e corpos crocantes. É como se tivesse feito dos meus pensamentos seu alimento. Eu te penteava, desenrolará, molhava e ensaboava. Mas acho que terei de viver com isso, vocês sempre vão ser atraídos de volta pelo cheiro adocicado dos pensamentos salgados. Embora eu tenha esperança de um dia um dos meus pensamentos venenosos tire a sua vida antes da minha para que eu posso ter a experiência de viver sem você .
Lembranças de Projeções Astrais
Lembranças de Projeções Astrais